15/02/2012

A grande verdade é que os sentimentos interessam

Verdade, verdade é que os sentimentos são um atraso de vida.
Paralisam ou põem tudo em rodopio.
Estremecem.
Tiram de órbita.
Afundam e ressuscitam.
Fazem rodar as quatro estações.
Na mesma tarde.
Acreditam?
...
Verdade, verdade é que os sentimentos atrasam. Deixam o trabalho para depois.
Despistam.
Aproximam o pó das estrelas e distanciam o pó das sebentas.
Que fazer?
Suspiros. Olhares. Olhinhos.
A linguagem passa perigosamente ao estado diminutivo sempre que os sentimentos perigosamente se expandem.
O pior é que nem pela ironia se dá.
...
Mas a verdade, a grande verdade é que os sentimentos interessam.
Tornam-nos gente.
Ensinam-nos a ser.
Pedem de nós o que trazemos de único e de irrepetível.
E preparam-nos para querer, para desejar receber o mesmo.
Do outro. Da outra.
Um comércio puro, gratuito.
Tão diferente, tão distante
dos rotineiros comércios.
...
A qualidade do nosso estar, aqui ou noutro lado, as coisas que temos ou que gostamos mesmo de aprender, os outros com que vamos tecendo o quotidiano, o sentido mais profundo que buscamos emprestar à nossa vida
dão-nos estofo. Firmeza interior.
Capacidade de construir.
Não aconteça sermos nós
uns atrasos de vida que fazem emperrar
os essenciais sentimentos.

Tolentino Mendonça

14/02/2012

Só de mim

Devir

O amor não tem principio nem fim porque quem vive no seu presente vive na eternidade. O rosto do amor ao olhar-nos prende-nos a si para sempre. Nunca mais esquecemos o seu olhar infiltrante, feiticeiro, a insinuar-se e a impor a sua presença para todo o sempre. Nunca mais esquecemos as feições do amor, o corpo em que encarna, o toque mágico que primeiro dá à luz o nosso próprio corpo e depois o ressuscita vezes sem conta de cada vez que o acaricia na noite da vida. O amor é um animal selvagem que chega ate nós e ocupa cada ponto do nosso corpo, mais, toda a nossa vida. O seu poder de contaminação é total. Basta um só olhar. O amor é esse conflito permanente e completo: liberta e agarra, é doçura e amargura, refaz e desfaz, ressuscita e adormece, faz-nos sonhar e confronta-nos com a realidade pura e dura, dá à luz. Mas também tem o poder de nos matar.


pedro paixão, ladrão de fogo